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MARTIN BUBER E A PSICOTERAPIA DIALÓGICA: o Eu-Tu da psicoterapia

Por Flávia Beatriz de Paiva Braga

20/04/2018

As Psicoterapias surgem no Ocidente, em meados do século XIX, com o objetivo de remover ou modificar sintomas de natureza emocional e promover o crescimento e o desenvolvimento da personalidade (PERES, SIMÃO2 & NASELLO, 2007). Aqui será feita uma reflexão sobre uma das abordagens em psicoterapia, a Psicoterapia Relacional Dialógica. Esta corrente, de base fenomenológica, tem como um de seus principais influentes, o filósofo Martin Buber. De acordo com Matson, citado por Moreira (2007), “a filosofia de Buber é, provavelmente, a mais profunda influência existencial no contexto da relação psicoterapêutica”. Holanda afirma que “...a maioria dos autores que tratam da fundamentação teórico-filosófica das abordagens psicoterápicas humanistas destaca a importância do trabalho de Buber” (MOREIRA,2007).

De acordo com o pensamento Buberiano, existem duas formas básicas de existir ou de ser no mundo, a relação EU-TU e a relação EU-ISSO, sendo um dos pilares de sua obra o livro EU-TU (1923), no qual descreve tais atitudes. Na atitude EU-TU, “o homem integra opostos, onde desaparecem as peculiaridades e contradições individuais” (idem). A atitude EU-TU refere-se à uma relação, um momento em que há um encontro de singularidade com singularidade, no qual a pessoa pode apropriar-se de si mesma, compreendendo-se e confirmando-se como pessoa, um momento em que a pessoa chega a um significado, a um fechamento.

No que se refere à atitude EU-ISSO, Forghieiri destaca que esta caracteriza a separação, o distanciamento entre o Eu (egótico) e o Tu (isso, ele, ela). A atitude EU-ISSO é entendida em termos de um relacionamento, e não de uma relação (que caracterizaria a atitude EU-TU). Esse é um momento em que a pessoa começa a ter um relacionamento com ela mesma em psicoterapia, e se refere à primeira redução fenomenológica, se comparado ao pensamento de Merleau-Ponty.

Para Forghieiri, no que concerne à situação terapêutica, podemos concluir que:

O psicoterapeuta atua numa alternância entre o conhecimento objetivo e a intuição categorial, entre o EU-TU e o EU-ISSO, entre o passado e a presentificação, entre o raciocinar e o existir como totalidade, entre o atuar sobre o cliente e o ser com ele. (FORGHIEIRI apud MOREIRA, 2007, p.102)

As indagações de Martin Buber estão baseiam-se no diálogo como categoria existencial por excelência. Sob essa perspectiva, “a compreensão da realidade humana dar-se-ia através do prisma do dialógico, do vínculo entre a experiência vivida (ação) e a reflexão (pensamento)”. Saleth Horta descreve o diálogo como um momento em que é possível expressar, ouvir, escutar e perceber. De acordo com Ramon (2010), o paradigma de psicoterapia Buberiano estaria vinculado com sua concepção sobre a constituição ou realização relacional-dialógica do psiquismo:

A peculiar característica da espécie humana, reside, acima de tudo, em que aquilo que acontece ‘entre’ um ser humano e outro [a vida dialógica], não tem algo parecido em parte alguma da natureza”, acrescentando que isso acontece na esfera do acontecer dialógico humano do “entre”. (RAMON, 2010, p. 240-241).

Esse “entre” pode ser compreendido como o lugar onde pode acontecer o encontro. No “entre” ocorre uma suave movimentação entre a minha energia e a do outro, facilitando assim, o surgimento de uma confiança básica para que o outro se revele.

Por fim, é possível verificar que uma Psicoterapia Relacional Dialógica tem por princípio uma relação desenvolvida no sentido terapêutico, que a partir de um diálogo possibilita momentos onde o EU-TU pode emergir. Conforme a pessoa vai trazendo sua história, ela pode se reconstruir a partir dessa relação, que facilita uma compreensão mais profunda dela mesma, e consequentemente, uma apropriação de si. Para que essa relação aconteça, se faz necessário uma confiança básica entre terapeuta e cliente, sendo imprescindível que o terapeuta acolha a cliente como ele é, em um encontro no qual ele pode ressignificar a própria vida, atribuindo a ela um novo sentido.

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