“Tá tudo bem não estar bem”. Será?
- Diálogos Humanistas
- 22 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de jun. de 2020
Por Amanda Aguiar e Oliveira
21/06/2020
Nesse momento de isolamento social, devido à jamais pensada (por mim) pandemia, a frase “Tá tudo bem não estar bem” se tornou comum e um alento para grande parte das pessoas.
Mas será que isso está bem mesmo?
Hoje completo 96 dias de isolamento, trabalho remoto, poucas visitas aos meus pais, saudades variadas espalhadas por aí. Até agora, tenho passado meus dias oscilando entre ciclos de grande produtividade, preguiça, alegria, cansaço sem motivo aparente, tristeza, dentre outras variações. Ciclos esses vividos em alguns dias ou semanas, mas sempre irregulares e sem aviso prévio. Em um dia estava pintando paredes e dali a dois dias, o dia inteiro no sofá sem querer ler, nem ligar a televisão.

Já nos primeiros dias de maior tristeza e sentimento de privação, eu me lembro de ver a querida frase “Tá tudo bem não estar bem” e, naquele momento, me senti acolhida. Nós nos cobramos com tanta frequência a estarmos bem ou buscando estar bem, que nos esquecemos que podemos também ter os dias de não estarmos plenos e dispostos.
Mas depois de vários dias repetindo pra mim mesma “Tudo bem, pode não ficar bem”, eu percebi que a mesma frase que me acolheu, se tornou meu amparo, porém, com certa dependência emocional sobre ela. Ficou mais fácil só pensar que estava tudo bem em estar mal, ao invés de, após me acolher, buscar compreender o que é que não estava me fazendo bem naquela situação.
Sim, continuei me acolhendo com ela, aninhando meu próprio sentimento e me compreendendo melhor nesse período. Mas me lembrei que eu só poderia mudar algo que me incomoda, a partir do momento que tentasse compreender de onde vinha, porque chegou agora e o que mantinha esse estado.
Sigo concordando com a frase, mas se pudesse ter feito antes, e aproveito para fazê-lo agora, eu a complementaria.
“Tá tudo bem não estar bem. Mas, assim que possível, busque tentar entender melhor o que é que não está bem”.
Não necessariamente com o intuito de sair desse estado, até porque muitas vezes, mesmo sabendo, a gente não consegue alterar a causa. Mas, ao se ter consciência, o sofrimento diminui. Ou, ao menos, o meu diminui.
Ele ameniza por me deixar saber que é algo que está para além de mim, que não consigo sair da minha casa e resolver, ainda que seja o meu maior desejo. Me permite perceber com mais evidência que eu não gosto dessa vida de isolamento social e que estou com saudades de muitos.
A certeza de que estou fazendo minha parte, não resolve o fato de que ainda não estou segura para fazer algumas coisas, ainda que de máscara. Assumir a minha impotência dói, mas tem me permitido me acolher nesses ciclos de menor disposição, porque a culpa de estar deitada no sofá, e não trabalhando, diminui.
Não pensar nessas coisas com calma, não percebê-las com transparência, me trazia mais angústia, me fazia sentir que não tem saída e que a única opção a partir desse momento, era piorar.
Entender melhor não muda o contexto, mas pode mudar o sentimento. Então eu deixo a minha sugestão: tente se entender um pouco mais. Mas se não estiver tudo bem, ainda assim, está tudo bem.